Manifestantes percorrem a praia com penicos, aos gritos de “xô cocô”
Mais de 300 indivíduos Não-Governamentais (INGs), entre moradores e freqüentadores de Ubatuba, Litoral Norte de São Paulo, realizaram neste domingo, dia 20 de abril, o primeiro “penicaço” contra a poluição da Praia de Itamambuca, uma das mais badaladas do Estado e paraíso dos surfistas.
Munidos de penicos e escovas de limpar vasos sanitários, os manifestantes reuniram-se no canto direito da praia, em frente ao rio Itamambuca, que também é considerado impróprio. Crianças, jovens, adultos e idosos carregavam cruzes, faixas, cartazes e até um excremento inflável gigante, aos gritos de “xô cocô” e de uma marchinha de carnaval com o sugestivo nome de “Pai do troço”.
Apesar do tom de brincadeira, o manifesto trouxe à tona um problema muito sério, o da poluição das águas, que atinge várias praias do litoral e acarreta prejuízos para o turismo, a pesca e a saúde pública.
No caso de Itamambuca, escolhida como palco da manifestação por ser um símbolo de Ubatuba, “a capital do surfe”, esta é a primeira vez na história que a praia recebe bandeira vermelha. De acordo com análise da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), o mar está impróprio para banho desde o dia 2 de abril, por causa do alto índice de coliformes fecais.
Realizado em pleno feriado prolongado de Tiradentes, o objetivo do “penicaço” foi chamar a atenção das autoridades e órgãos ambientais e, ainda, alertar o turista sobre o perigo de contrair doenças ao mergulhar em águas contaminadas. “É muito triste vir à praia e não poder entrar no mar”, queixou-se uma turista de Taubaté. “A bandeira vermelha passa despercebida. Se não fosse esse protesto e o panfleto distribuído na entrada da praia, eu teria entrado na água”, observou uma paulistana, que planejava voltar no próximo feriado, mas já decidiu que vai para o interior.
O panfleto alertando os turistas sobre os riscos de contaminação foi distribuído pela Sociedade Amigos de Itamambuca, que apoiou a manifestação do “penicaço”.
Os INGs colheram mais de mil assinaturas contra a poluição de Itamambuca e irão reivindicar a criação de uma comissão especial, envolvendo Estado, Prefeitura, Sabesp e outros órgãos competentes, para tratar do assunto. Só com o consentimento de todos e a vontade de encontrar soluções é que se conseguirá proteger o que ainda resta de natureza no nosso litoral.
Entenda o problema de Itamambuca
De acordo com o diagnóstico sanitário ambiental da região, realizado por iniciativa da Sociedade Amigos de Itamambuca (SAI) e disponível no endereço www.ubatubasurfcam.com.br/v2/estudo.pdf, as ocupações humanas junto às margens do rio Itamambuca e seus afluentes caracterizam-se pela inexistência de sistemas adequados de tratamento de esgoto, sendo que 50% das edificações dispõem apenas de fossa negra, ou seja, um buraco no chão, sem revestimento interno impermeabilizante.
O constante despejo de esgoto doméstico nos corpos d´água que compõem a bacia hidrográfica de Itamambuca já ocasionaram a contaminação do rio, que vem recebendo bandeira vermelha da Cetesb desde o ano 2000, e agora comprometem o mar.
A degradação das praias não é um fenômeno novo e, se não houver ações práticas imediatas, o destino de Itamambuca será o mesmo do Cruzeiro, do Itaguá e de outras praias de Ubatuba em que não se pode nadar. “Não queremos só olhar o mar”, protesta um menino de 10 anos, participante do “penicaço”.
Poluição só traz prejuízos
Ancilostomíase, Estrongiloidíase, Amebíase, Giardíase, Febre tifóide, Ascaridíase, Enterobiose, Balantidíase são exemplos de doenças de veiculação hídrica, provocadas por vermes, protozoários ou bactérias presentes nas fezes humanas, que são despejadas inadvertidamente nos corpos d´água. De acordo com o mapa de saneamento básico do IBGE, no Brasil, apenas 20% dos esgotos recebem algum tipo de tratamento.
Ubatuba está inscrita nesse mapa da vergonha. Itamambuca, Itaguá, Santa Rita, Perequê Mirim e Dura estão impróprias para banho, por causa do alto índice de coliformes fecais que deságua no mar.
O custo para tratar o esgoto sanitário é quatro vezes menor que o das internações motivadas por doenças infecto-contagiosas de veiculação hídrica. A conta é da organização Mundial da Saúde: para cada um real investido em saneamento básico, economizam-se quatro reais com atendimento médico e hospitalar.
A poluição das águas custa caro para o município, pois gera prejuízos para o turismo, a pesca e a saúde pública.
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